Quando somos crianças, é bem provável que a pergunta que os adultos nos fazem com mais frequência – para além de “o que queres ser quando fores grande” – seja: “Qual a tua cor preferida?”
Também é muito provável que as meninas digam “cor-de-rosa” e os meninos digam “azul”, embora esta tendência heteronormativa esteja a cair em desuso e os pais incentivem cada vez mais a apologia de um espectro mais alargado de cores. Good for them. O mais provável ainda é que as crianças mudem de cor preferida de semana em semana porque… enfim, quando são crianças não existe bem aquela coisa de “ser fiel à tua palavra”, porque ainda mal sabem falar e estruturar ideias elaboradas, quanto mais assumir gravado na pedra que aquela é, efectivamente, a nossa cor preferida.
Esta pergunta vai sendo eliminada das nossas vidas à medida que vamos crescendo. Temos de nos preocupar com métodos contraceptivos, com política e com dinheiro, vamos agora lá pensar qual é a nossa cor preferida! Quando pergunto a algum adulto qual a cor preferida, sou invariavelmente recebida com uma microexpressão facial de perplexidade, como quem diz “ué, não arranjaste nada melhor para perguntar?”. Quando me respondem branco, preto ou azul apetece-me vomitar um bocadinho. Come on guys, you can do better than that!
O amarelo é uma cor pouco consensual. A língua portuguesa até tem aquele ditado (parvo) que afirma “Se não fosse o mau gosto, o que seria do amarelo?” ou uma versão mais corrente “Se todos gostassem do mesmo, o que seria do amarelo?”.
Não sou designer, nem psicóloga, mas para vos escrever este texto e conferir alguma credibilidade ao meu amor pelo amarelo, aqui vão algumas informações que fui lendo e recolhendo:
- O amarelo é uma cor que se destaca pela sua essência iluminante. É associada a coisas agradáveis da vida como o sol, o calor, a alegria e a felicidade. O amarelo inspira positivismo e, com a sua simplicidade, apela muito à criançada. É por isso que muitos brinquedos têm o amarelo como cor predominante.
- A cor do sol* melhora a auto-estima. Sendo um tom alegre e vivo, o amarelo é inerentemente otimista. Admirar ou utilizar a cor amarela é uma forma rápida de melhorar o nosso humor, de aumentar a nossa energia e de fomentar a confiança. Um exemplo prático é observarem com atenção a comunicação não-verbal de alguém que vista um amarelo vibrante. É impossível ficar de trombas quando se tem a coragem de usar e abusar do amarelo.
*eu sei que vocês querem argumentar e dizer-me que o sol é branco, mas vamos pensar em como o sol é retratado. O Van Gogh pintava sóis bem bonitos e eram todos amarelinhos! - O amarelo estimula o lado esquerdo do cérebro, responsável pelo pensamento lógico. Diz-se que o amarelo é a cor do conhecimento exactamente por isso. Estimula as nossas faculdades mentais e ajuda a desenvolver a agilidade mental e a percepção. É a cor das novas ideias, ajudando-nos a encontrar novas formas de agir e pensar. Criatividade, portanto.
- Imaginem que o Amarelo é uma pessoa. É um grande comunicador e adora conversar. É um excelente networker e a sua natureza inquisitiva faz dele um excelente jornalista. O Amarelo analisa tudo, verifica os dois lados antes de tomar uma decisão, é metódico e decidido. O Amarelo é a alma da festa, ninguém lhe fica indiferente.
Foi preciso algum tempo para eu assumir o meu amor pelo amarelo. Deve ter começado quando fiz 30 anos, mais coisa menos coisa. Sendo uma cor muito associada à infantilidade e à energia desmedida, talvez tivesse algum receio de querer dar espaço ao amarelo na minha vida.
Quando pensei em criar um blogue – seja lá aonde este blogue for dar – a cor amarela deu-me o boost de motivação e paixão de que precisava. Gostar de amarelo tem sido quase uma forma de vida. Para muitos, uma estranha forma de vida. Para outros, uma vida que vale a pena ser vivida.
O Yellow será sobretudo um desafio intelectual, no qual pretendo estimular a mente, conversar convosco, sempre com alegria e exuberância. E talvez um dia, possamos mudar o ditado para “Se não fosse o amarelo, o que seria de nós?”.